Powered By Blogger

sábado, 10 de setembro de 2016

O perigo do medo da verdade.


O objetivo deste blog não é partidário nem ideológico e sim educacional e pedagógico.
Mas também tem opiniões de um brasileiro indignado com o discurso populista, demagógico e inresponsável de outros "brasileiros".
O texto abaixo é do Professor Cristovam Buarque e tem o meu apoio.

"Em 1956, depois do discurso de Nikita Krushev, milhares de militantes comunistas se negaram a acredita nos crimes e erros que Josef Stalin cometeu à frente da União Soviética. Muitos comunistas sobreviveram e morreram insistindo que tudo não passava de uma farsa do grupo que tinha tomado o poder. Stalin continuou sendo uma referência para eles.
Sessenta anos depois, milhares de brasileiros estão passando por situação parecida ao perceberem erros e crimes cometidos pelos partidos de esquerda no poder, especialmente depois de 2003. Embora os erros e falhas éticas de nossos partidos nada tenham a ver com as brutalidades genocidas do regime soviético, é surpreendente ver militantes, intelectuais, cientistas, filósofos dizendo que juízes e procuradores da Lava-Jato, que prendem políticos e empresários corruptos, são agentes infiltrados da CIA e do FBI, treinados para desfazer os partidos de esquerda na América Latina.
Negam que houve corrupção nas estatais, como resultado de um criminoso aparelhamento da máquina do governo, que as alianças espúrias feitas para manter o poder não depredaram a consciência política de nossos eleitores, ou insistem que os governos de esquerda foram levados à corrupção por uma conspiração internacional.
Percebe-se a mesma cegueira que permitiu acreditar nas narrativas criadas pelo marketing: de que o pré-sal salvaria o Brasil; de que trinta milhões de brasileiros haviam ascendido à classe média; de que os filhos dos pobres disputam a entrada na universidade pública com igualdade de condições com os filhos dos ricos; e que a Copa do Mundo provocaria 3% de crescimento no Produto Interno Bruto (PIB) e a Olimpíada um pouco menos.
Nada disso se verificou, mas, além de continuar acreditando, negam-se a admitir o saque à Petrobras e à Eletrobrás; negam a corrupção generalizada e os efeitos do aparelhamento do Estado. As mentiras na campanha de 2014; a falência dos fundos de pensão; a falência das finanças e dos serviços públicos. De tanto viciar-se nas narrativas oficiais, pode-se dizer que há um medo da verdade e, portanto, uma recusa pensar.
Apesar de um recente aumento no interesse pela política, houve um retrocesso no nível de consciência política no Brasil: os debates são feitos como entre torcidas esportivas. Surgiu uma cegueira que impede ver o desastre provocado pela irresponsabilidade fiscal, com propósito eleitoral, apesar de tantos alertas
feitos ao longo dos últimos anos. O medo da verdade, a aceitação das narrativas, têm empobrecido o debate político brasileiro.
Recentemente, fui abordado por uma senhora, que me perguntou: “O senhor é o senador Cristovam?”.
Sorrindo, disse que sim e estendi-lhe a mão. Ela não moveu o braço e ainda disse que não apertava mão de golpista. Perguntei-lhe como sabia o voto que darei, se tenho me mantido firme na posição de juiz, que só informa sua sentença depois de ouvir e analisar todos os procedimentos de defesa e acusação. Ela respondeu de pronto: “Quem ainda está pensando é golpista”.
Ao contar isso entre amigos, defensores ou não do impeachment, descobri que a posição daquela senhora é aceita por muitos, dos dois lados. Para a maioria, pensar sobre a correção ou não do impeachment para o futuro do país é uma posição vacilante: para um lado, de “golpista”; para o outro, de petista. Estes não admitem que se justifique analisar crime que determinam não ter ocorrido; os outros não admitem que se ignorem os crimes que para eles ocorreram.
Todos estão com medo da verdade. Muitos parlamentares do PT sabem que a volta da presidente Dilma, sem base no Congresso Nacional, com o descrédito de seu governo, com as dificuldades de recompor um Ministério, deixará o Brasil, especialmente nossa economia, em condições muito frágeis.
Do outro lado, os que fazem oposição ao PT e ao conjunto da população admitem que a derrubada da presidente, no meio de seu mandato, apesar de todos os erros, sem clareza de crime, macula o futuro da democracia presidencialista, trazendo instabilidade futura.
Mas, no lugar de debater na busca do que será melhor para o Brasil, estamos desprezando a verdade, desprezando a história, fugindo do pensamento, preferindo acreditar nas opções doutrinárias."

Cristovam Buarque
Professor emérito da UnB e senador pelo PPS-DF
Publicação: 24/07/2016 03:00

sábado, 3 de setembro de 2016

Professores, acordem...!



Vocês estão sendo usados e enganados por pessoas e grupos que querem apenas um lugar nos poderes executivo e legislativo.
Para sermos sujeitos de nossa transformação, temos de deixar a posição de coitadinho e injustiçado e perceber as nossas potencialidades e limitações.
Alguns professores não leram e não gostaram, outros leram e não entenderam e poucos leram e perceberam algumas verdades que os professores não querem admitir.
Eu pertenço a este último grupo.
Este texto deve ser visto como uma crítica construtiva e como um direito à liberdade de expressão. 



" Professores, acordem!

O respeito da sociedade não virá quando vocês tiverem um contracheque mais gordo. Virá com a educação de qualidade para nossos filhos. 

Greve de professores - Muitos gostam do modelo cubano, mas esquecem que lá o salário mensal de um professor é de aproximadamente 28 dólares (Rania Rego/Ag. Brasil/VEJA/VEJA)

 Normalmente escrevo esta coluna pensando nos leitores que nada têm a ver com o setor educacional. Faço isso, em primeiro lugar, porque creio que a educação brasileira só vai avançar (e com ela o Brasil) quando houver demanda pública por melhorias. E, segundo, porque nos últimos anos tenho chegado à conclusão de que falar com o professor médio brasileiro, na esperança de trazer algum conhecimento que o leve a melhorar seu desempenho, é mais inútil do que o proverbial pente para careca. Não deve haver, nos 510 milhões de quilômetros quadrados deste nosso planeta solitário, um grupo mais obstinado em ignorar a realidade que o dos professores brasileiros. O discurso é sempre o mesmo: o professor é um herói, um sacerdote abnegado da construção de um mundo melhor, mal pago, desvalorizado, abandonado pela sociedade e pelos governantes, que faz o melhor possível com o pouco que recebe. Hoje faço minha última tentativa de falar aos nossos mestres. E, dado o grau de autoengano em que vivem, eu o farei sem firulas.

Caros professores: vocês se meteram em uma enrascada. Há décadas, as lideranças de vocês vêm construindo um discurso de vitimização. A imagem que vocês vendem não é a de profissionais competentes e comprometidos, mas a de coitadinhos, estropiados e maltratados. E vocês venceram: a população brasileira está do seu lado, comprou essa imagem (nada seduz mais a alma brasileira do que um coitado, afinal). Quando vocês fazem greve – mesmo a mais disparatada e interminável -, os pais de alunos não ficam bravos por pagar impostos a profissionais que deixam seus filhos na mão; pelo contrário, apoiam a causa de vocês. É uma vitória quase inacreditável. Mas prestem atenção: essa é uma vitória de Pirro. Porque nos últimos anos essa imagem de desalento fez com que aumentassem muito os recursos que vão para vocês, sem a exigência de alguma contrapartida da sua parte. Recentemente destinamos os royalties do pré-sal a vocês, e, em breve, quando o Plano Nacional de Educação que transita no Congresso for aprovado, seremos o único país do mundo, exceto Cuba, em que se gastam 10% do PIB em educação (aos filocubanos, saibam que o salário de um professor lá é de aproximadamente 28 dólares por mês. Isso mesmo, 28 dólares. Os 10% cubanos se devem à falta de PIB, não a um volume de investimento significativo).

Quando um custo é pequeno, ninguém se importa muito com o resultado. Quando as coisas vão bem, ninguém fica muito preocupado em cortar despesas. E, quando a área é de pouca importância, a pressão pelo desempenho é pequena. No passado recente, tudo isso era verdade sobre a educação brasileira. Éramos um país agrícola em um mundo industrial; a qualificação de nossa gente não era um elemento indispensável e o país crescia bem. Mas isso mudou. O tempo das vacas gordas já era, e a educação passou a ser prioridade inadiável na era do conhecimento. Nesse cenário, a chance de que se continue atirando dinheiro no sistema educacional sem haver nenhuma melhora, a longo prazo, é zero.

Vocês foram gananciosos demais. Os 10% do PIB e os royalties do pré-sal serão a danação de vocês. Porque, quando essa enxurrada de dinheiro começar a entrar e nossa educação continuar um desastre, até os pais de alunos de escola pública vão entender o que hoje só os estudiosos da área sabem: que não há relação entre valor investido em educação – entre eles o salário de professor – e o aprendizado dos alunos. Aí esses pais, e a mídia, vão finalmente querer entrar nas escolas para entender como é possível investirmos tanto e colhermos tão pouco. Vão descobrir que a escola brasileira é uma farsa, um depósito de crianças. Verão a quantidade abismal de professores que faltam ao trabalho, que não prescrevem nem corrigem dever de casa, que passam o tempo de aula lendo jornal ou em rede social ou, no melhor dos casos, enchendo o quadro-negro de conteúdo para aluno copiar, como se isso fosse aula. E então vocês serão cobrados. Muito cobrados. Mas, como terão passado décadas apenas pedindo mais, em vez de buscar qualificação, não conseguirão entregar.

Quando isso acontecer, não esperem a ajuda dos atuais defensores de vocês, como políticos de esquerda, dirigentes de ONGs da área e alguns “intelectuais”. Sei que em declarações públicas esse pessoal faz juras de amor a vocês. Mas, quando as luzes se apagam e as câmeras param de filmar, eles dizem cobras e lagartos.

Existem muitas coisas que vocês precisarão fazer, na prática, para melhorar a qualidade do ensino, e sobre elas já discorri em alguns livros e artigos aqui. Antes delas, seria bom começarem a remover as barreiras mentais que geram um discurso ilógico e atravancam o progresso. Primeira: se vocês são vítimas que não têm culpa de nada, também não poderão ser os protagonistas que terão responsabilidade pelo sucesso. Se são objetos do processo quando ele dá errado, não poderão ser sujeitos quando ele começar a dar certo. Se vocês querem ser importantes na vitória, precisam assimilar o seu papel na derrota.

Segunda: vocês não podem menosprezar a ciência e os achados da literatura empírica sempre que, como na questão dos salários, eles forem contrários aos interesses de vocês. Ou vocês acreditam em ciência, ou não acreditam. E, se não acreditam – se o que vale é experiência pessoal ou achismo -, então vocês são absolutamente dispensáveis, e podemos escolher na rua qualquer pessoa dotada de bom-senso para cuidar da nossa educação. Vocês são os guardiães e retransmissores do conhecimento acumulado ao longo da história da humanidade. Menosprezar ou relativizar esse conhecimento é cavar a própria cova.
Terceira: parem de vedar a participação de terceiros no debate educacional. É inconsistente com o que vocês mesmos dizem: que o problema da educação brasileira é de falta de envolvimento da sociedade. Quando a sociedade quer participar, vocês precisam encorajá-la, não dizer que só quem vive a rotina de “cuspe e giz” é que pode opinar. Até porque, se cada área só puder ser discutida por quem a pratica, vocês terão de deixar a determinação de salários e investimentos nas mãos de economistas. Acho que não gostarão do resultado…

Quarta: abandonem essa obsessão por salários. Ela está impedindo que vocês vejam todos os outros problemas – seus e dos outros. O discurso sobre salários é inconsistente. Se o aumento de salário melhorar o desempenho, significa que ou vocês estavam desmotivados (o que não casa com o discurso de abnegados tirando leite de pedra) ou que é preciso atrair pessoas de outro perfil para a profissão (o que equivale a dizer que vocês são inúteis irrecuperáveis).
O respeito da sociedade não virá quando vocês tiverem um contracheque mais gordo. Virá se vocês começarem a notar suas próprias carências e lutarem para saná-las, dando ao país o que esperamos de vocês: educação de qualidade para nossos filhos. "

 

Fonte: http://veja.abril.com.br/educacao/professores-acordem/